BOCA DO CEU 34
Ano X/Jan/Fev/Mar/2010
E O VOTO?
Estamos em mais um ano de eleições. Eleições em nível nacional que envolve os seguintes cargos: Presidente, Governadores, Senadores, Deputados: federal e estadual. Há algum tempo atrás estaria defendendo o voto em candidatos honestos e éticos, de preferência pertencentes a partidos que tivessem em seus programas a luta pela implantação de um sistema de governo com ideais Socialistas. Ainda defendo o Socialismo como forma de governo e candidatos honestos e éticos, acredito, também, que, em alguns partidos, com certa dificuldade, é claro, ainda se encontra parlamentares que defendam esses ideais.
Infelizmente esses partidos, para chegarem ao poder, fizeram coligações com o que existe de mais reacionário dentro do que chamamos política partidária. Misturaram-se tanto que hoje, não temos nenhum que defenda essa forma de governo. Apesar de ainda manterem seus programas com linha socialista, apenas para manter o falso discurso.
Assim, o voto que ainda continua sendo uma das mais importantes armas que dispomos, deve ser usado de forma correta, principalmente em uma sociedade capitalista, onde as diferenças sociais são enormes, e os interesses são ainda maiores. Como não temos partidos ideológicos, que trabalhe por uma sociedade mais justa, temos que a cada eleição tentar encontrar candidatos que pelo menos tenham alguma coisa em comum com nossas idéias: que pensem em construir um mundo melhor, com menores diferenças. Sabemos que na atual conjuntura é difícil encontrar cidadãos dentro de algum partido político preocupado com isso, mas não custa procurar, se não encontrarmos temos outras formas de exercer nosso direito de voto. O voto nulo, o voto em branco, e até não comparecer perante a urna. São maneiras de exercer a “democracia”, se o voto é apenas uma das mais importantes armas que temos, precisamos urgentemente procurar trabalhar mais as outras armas que possuímos. Fiscalizar o judiciário, o executivo, o legislativo de nosso município, do estado, do país, denunciando as irregularidades, fiscalizar, participar e contribuir nas decisões que envolva educação, saúde, planejamento social, execução de obras, propondo, colaborando, tentando evitar falcatruas, desmandos, corrupção, etc, são armas que nos dão possibilidades de exercer o direito de cidadão e contribuir para um mundo melhor.
Rui Oliveira Machado
MÊS DAS MULHERES
Comemorou-se no último dia 08 de março o Dia Internacional da Mulher, na verdade dia de mulher é todo dia, já que as companheiras trabalham de sol a sol, no campo, na cidade, dentro e fora de casa, e ainda por cima com direitos em sua grande maioria negados.
Felizmente com a luta dessas grandes guerreiras as coisas estão mudando, já temos diversas Delegacias Especializadas em Violência contra a Mulher, temos, em qualquer área, mulheres trabalhando de igual para igual com os homens e em muitos casos superando-os, mas, em uma sociedade machista, como é a nossa, ainda falta muito para pelo menos amenizar o sofrimento dessas valorosas companheiras. Quando avançamos no campo das oportunidades na educação, no trabalho, na igualdade dos direitos, avançamos desordenadamente na violência, na discriminação, no assedio, na falta de respeito, na independência sexual e muitas outras maldades que são praticadas a todo instante. *Notícias sobre violência contra a mulher rotineiramente são apresentadas nos veículos de informação. Segundo dados estatísticos, a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. O despertar para o combate à violência contra a mulher ainda se encontra muito discreto, tanto pelo medo da exposição como pela limitação em reconhecer que a violência não é caracterizada só por tapas e porradas.
Nesse mês onde se comemora o Dia Internacional das mulheres, nós homens, precisamos fazer uma autocrítica, parar e pensar como está nosso relacionamento com as companheiras: estaremos sendo machistas, discriminadores, violentos, traidores, etc, etc, etc, etc,...? Como podemos contribuir para mudar esse quadro? Quem sabe assim poderemos trabalhar juntos para a construção de uma sociedade mais justa, onde não seja preciso estabelecer um dia para lembrar que devemos respeitar nossas companheiras.
Rui Oliveira Machado.
* release da peça “AMANHECEU” Espetáculo solo de Juliana Bebé...
BOCA DO CEU 35
Ano X - Abr/Mai/junb/2010
FICHA LIMPA
Com a aprovação do projeto Ficha Limpa, existe uma grande chance de se ter uma renovação considerável na política nacional. É bom deixar claro que a maioria dos parlamentares das duas casas, usou de diversos artifícios para que o mesmo fosse engavetado, não conseguindo, por força da pressão popular, partiram para a transformação do mesmo em mais um arremedo. Mesmo assim valeu a pena lutar e mostrar que o povo brasileiro, mesmo segundo pesquisas, satisfeito com o atual governo, não está passivo e se preciso vai à luta.
Como é de nosso conhecimento, a maioria dos municípios brasileiros são administrados por políticos que estão em sua grande maioria enrolados com processos junto ao TCE (Tribunal de Contas do Estado), ou no TCU (Tribunal de Contas da União), fato que inviabiliza as suas candidaturas. Nos estados o mesmo também acontece. Caso o projeto passe, a partir dessas eleições, já teremos figuras históricas com problemas para se lançarem candidatos, a exemplo do Sr. Paulo Salim Maluf, Jader Barbalho, Joaquim Roriz para citar apenas alguns. No município de Uibaí, como na maioria dos mais de quatrocentos existentes só na Bahia pode-se ficar até sem candidatos, pois os prefeitos e vereadores que por lá passaram, são como diz o ditado popular: pombos sujos, todos com processos pendentes em algum tribunal.
O projeto está para ser sancionado pelo Presidente Lula que não deve vacilar em aplicar a canetada, já que o projeto é de origem popular e teve 1.600.000 (um milhão e seiscentas mil assinaturas), e mais alguns milhões virtuais, assim vetar o projeto seria um tiro no pé, ou melhor, na candidatura de Dilma. Assim, mesmo que muitos pré-candidatos a cargos proporcionais da base de sustentação do governo fiquem prejudicados, o foco e não atrapalhar a sua, já dita como certa sucessão. É esperar e torcer para que esse projeto, mesmo não sendo ainda o que queremos, seja sancionado.
Rui Oliveira Machado.
TEOLOGIA MORAL DA MANGA
O velho caipira, com cara de amigo, que encontrei num Banco, estava esperando para ser atendido. Ele ia abrir uma conta. Começo de um novo ano... Novas perspectivas...E como não podia deixar de ser, também começou ali um daqueles papos de fila de banco. Contas, décimo terceiro que desapareceu, problemas do Brasil, tsunami... Será que vai chover?
Mas em determinado momento a conversa tomou um rumo: "- Qual é então o maior problema do Brasil para ser resolvido? "E aí o representante rural, nosso querido "Mazaropi da modernidade" falou com um tom sério demais para aquele dia:
" - O Maior Problema do Brasil é que sobra muita manga!"
Tentei entender a teoria... Fez-se um silêncio e ele continuou: “- O senhor já viu como sobra manga hoje debaixo das árvores? Já percebeu como se desperdiça manga? "Sim... Creio que todos já percebemos isto... Onde tem pé de manga, tem sobrado manga... E Aí ele continuou:
" - Num país onde mendigo passa fome ao lado de um pé de manga... Isso é um absurdo! Num país que sobra manga tem pouca criança. Se tiver pouca criança as casas são vazias... Ou as crianças que tem já foram educadas para acreditar que só "ice cream" e jujuba são sobremesas gostosas. Boa é criança que come manga e deixa escorrer o caldo na roupa... É sinal que a mãe vai lavar, vai dar bronca, vai se preocupar com o filho. Se for filho tem pai...
Se tiver pai e manga de sobremesa é por que a família é pobre... Se for pobre, o pai tem que ser trabalhador... Se for trabalhador tem que ser honesto... Se for honesto, sabe conversar... Se souber conversar, os filhos vão compreender que refeição feliz tem manga que é comida de criança pobre e que brinca e sobe em árvore... Se subir em árvore, é por que tem passarinho que canta e espaço para a árvore crescer e para fazer sombra... Se tiver sombra tem um banco de madeira para o pai chegar do trabalho e descansar...
Quem descansa no banco, depois do trabalho, embaixo da árvore, na sombra, comendo manga é por que toca viola...
E com certeza tá com o pé na grama... Quem pisa no chão e toca música tem casa feliz... Quem é feliz e canta com o violeiro, sabe rezar... Quem sabe rezar sabe amar... Quem ama, se dedica... Quem se dedica, ama, reza, canta e come manga, tem coração simples...
Quem tem coração assim, louva a Deus. Quem louva a Deus, não tem medo... Nada faltará porque tem fé... Se tiver fé em Deus, vê na manga a providência divina... Come a manga, faz doce, faz suco e não deixa a manga sobrar... Se não sobra manga, tá todo mundo ocupado, de barriga cheia e feliz. Quem tá feliz... Não reclama da vida em fila do banco... "
Daí fez-se um silêncio...
(((Rubem Alves)))
"Simplicidade é a sofisticação máxima." (Leonardo da Vinci).
BOCA DO CEU 36
Ano X - Jul/ags/setb/2010
PORTAL DA TRANSPARENCIA.
Estamos em um novo tempo. Os avanços tecnológicos permitem-nos estar conectados vinte e quatro horas com o mundo. O acesso a informações, de qualquer tipo, está a cada minuto mais simples podendo ser feita por qualquer cidadão em um computador, instrumento de trabalho distribuído nos mais humildes lugarejos de nosso país nas lan hauses, em escolas públicas, etc. O povo brasileiro, hoje mais consciente, luta por maior transparência nos gastos públicos nas três esferas: Federal, Estadual e Municipal. O governo federal já tem disponibilizado um instrumento onde qualquer cidadão possa acompanhar seus gastos, o Portal Transparência Brasil, alguns estados e municípios também já estão procurando fazer uso desses instrumentos, mas mesmo assim, o percentual de corrupção e desvio de dinheiro público, através de todo tipo de falcatruas, ainda é muito grande. Os exemplos estão aí. No executivo, no Judiciário e no Legislativo de todas as esferas de governos. Desvio com passagens aéreas, com os cartões coorporativos, com o pró Uni, com programa de bolsa família e agora uma nova modalidade, pelo menos foi o que se noticiou e veio à publico, nesses últimos dias, em nosso querido Uibaí: o desvio via Declaração de Imposto de Renda, não sabemos como é feito, mas o prejuízo nos cofres público e certo.
Já está na hora de trabalharmos para que em nosso município seja adotada essa ferramenta de trabalho, com o intuito de abrir espaço para fiscalizar a aplicação do dinheiro público pelo cidadão, socializando as informações para que através da participação (Orçamento participativo), possamos identificar as prioridades e evitar a corrupção. O trabalhador brasileiro não tem, infelizmente, o hábito de procurar saber onde e de que forma seu dinheiro está sendo aplicado. Não só no governo, mas também em seus sindicatos, associações, no condomínio, no clube, etc. Como não se tinha meios eficazes de realizar esse acompanhamento, delegava-se essa atribuição para uns poucos iluminados. Agora que temos condições concretas de fiscalizar, devemos usar todos os meios disponíveis. Já passou da hora de mudar esse quadro, precisamos estar atentos; questionar, fiscalizar, cobrar a todo o momento quanto e onde estão sendo aplicados os recursos públicos do nosso município. Uibaí, que sempre esteve à frente nessa região no que concerne a avanços e inovações, tem nesse momento a oportunidade de antecipar e disponibilizar suas contas via internet, criando um Portal da Transparência municipal, onde o cidadão possa acompanhar em tempo real os gastos e os investimentos do município. É de fundamental importância que essa Administração, que veio com a proposta de mudança e transparência, assuma esse compromisso até o final desse mandato.
Rui Oliveira Machado
A INSUSTENTAVEL PRECONCEITO DO SER.
Por Rosana Jatobá. *
Era o admirável mundo novo!
Recém chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos. Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
- Recomendo um passeio pelo nosso “Central Park”, disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
- Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
- Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
- A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
- Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem “farofa” no parque.
- Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
- Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar.
-De fato percebo que não existe intenção de magoar. São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os “Paraíba”, que, aliás, podem ser qualquer nordestino.
Com ou sem “cabeça chata”, outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável. Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava:
- O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte:
“O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, quero teu amor”.
“É ofensivo”, diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem. A expressão “pé na cozinha”, para designar ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala. O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta: “Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos”. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra “niger” para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim:
“Eeny, meeny, moe, catch a niger by the toe”... que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se que diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra, os negros cunharam o slogan “black is beautiful”. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém”. Será que na era Obama vão inventar “Pé na Presidência”, para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje? A origem social é outro fator que gera comentários tidos como “inofensivos”, mas cruéis. A nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto.
Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir:
- A minha “criadagem” não entra pelo elevador social!
E a competência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais? Os termos bichona, frutinha, biba, “viado”, maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo? Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente:
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque! Dependendo do tom do cabelo, demonstração de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino:
- Só podia ser loira! Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco:
- Só podia ser judeu! A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndegas, baleia...
Gosto muito do provérbio bíblico, legado ao Cristianismo: “O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem”. Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano. A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque, em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorância e alimenta o monstro da maldade. Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcoólatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado:
- Só podia ser mendigo! No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata lll detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover:
- Só podia ser bandido! Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.
PS. Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos...
*Rosana Jotabá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologia ambientais da Universidade de São Paulo.
Apresenta a previsão do tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo.